quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Texto de Teste

Toda virada de século, pelo menos é o que se tem notícia, é marcada por uma enxurrada de acontecimentos que podem transformar os rumos pelos quais a humanidade percorrerá no século seguinte. Porém, podemos afirmar que não houve uma virada de século tão efervescente quanto a do século XIX para o XX: crescente aumento da industrialização, unificação de muitos países, descobertas nas várias áreas do conhecimento, aumento de tendências políticas de cunho social, forte migração dos habitantes do campo para as cidades, etc.
O Brasil tinha instaurado a República a pouco tempo e seu povo estava cheio de esperança por tempos melhores do que os tempos de dificuldade e marasmo econômico que a Monarquia tinha impregnado na nação. O carro-chefe desta esperança do povo era a industrialização, que por aqui começava a engatinhar em algumas cidades mais desenvolvidas e capitais. Porém, com a efetiva chegada da industrialização ao Brasil, o que se viu foi o mesmo que boa parte do mundo já estava acostumada: jornada de trabalho excessiva, instabilidade no emprego, funções perigosas, salário muito baixo e sem regulamentação, etc.
Nos primeiros anos dessa empreitada os trabalhadores pouco se manifestavam para reinvidicarem algum direito, até porque quase não se sabia sobre seus direitos, e os poucos que se manifestavam eram tidos pelos empregadores como agitadores e baderneiros e, muitas vezes, castigados severamente, o que causava grande medo nos operários.
Aos poucos os operários iam se organizando. Principalmente influenciados pelos livros vindos da Europa e pelos exemplos que também vinham do mesmo continente.
Em 1917, a morte de um sapateiro anarquista, José Martinez de 21 anos, provocou grande comoção popular e ajudou a esquentar o debate entre os operários, o governo e os empregadores. Provocou uma greve geral e uma manifestação nunca vista antes na cidade de São Paulo.
Nessa época, as idéias vigentes entre os operários se alternavam entre o Anarquismo e o Socialismo, porém ainda eram poucos os operários que se arriscavam a defender alguma dessas correntes de pensamento publicamente devido a grande repressão a classe operária.
Da Europa, chegavam experiências de organização operária e no Brasil vigorava uma Lei de 1907 autorizando a organização dos operários. Isso motivou a criação de muitas organizações, porém não tiveram muitos resultados positivos, no que diz respeito da conquistas de direitos. O que se conseguiu foi a formação de muitos grupos de reinvidicação com forte inspiração para a conquista de poder político e algumas até pensavam em controle total do governo nacional.
No segundo mandato de Getúlio Vargas, nova esperança de melhorias e pedidos atendidos. Mas, ao contrário do que se esperava, Getúlio mandou exilar e/ou prender os líderes mais radicais de alguns movimentos operários.
A dor não assolava a classe trabalhadora por completo. Getúlio melhorou em muito as condições trabalhadoras. Implantou um piso salarial e reduziu a jornada de trabalho. Ato que satisfez muitas organizações operárias.
Com o desenrolar deste século, a partir daí, muitas outras mudanças ocorreram, porém, as Leis consolidadas por Getúlio pouco foram afetadas. A ditadura militar dificultou o movimento operário. Mais repressões e proibições que enfraqueceram a classe trabalhadora. Com a abertura política do país e a tolerância a alguns movimentos, como o PT, os direitos dos trabalhadores voltaram a serem discutidos até que em 1988, a nova Constituição do Brasil, “re-consolidados”.
Uma história repleta de lutas, paixões e conquistas foi escrita pela classe operária do século XX. Era uma época onde se apostava, de fato, na melhoria da qualidade de vida, ainda que este termo possa não ter sido usado. Época onde a palavra de um homem valia mais do que qualquer dinheiro do mundo e a classe mais desprovida de condições de vida tinha gana da luta.
Hoje, o que vemos é uma desconfiança em tudo e em todos. Uma apatia geral, abatendo justamente àqueles que deveriam seguir os exemplos do passado. Briga política e acordos “sem pé nem cabeça”.
Para ilustrar minha reflexão-resgate sobre a classe operária escolhi uma música do Legião Urbana. Penso que ela consegue juntar todas as fases dessa luta pela causa operária:

Fábrica
Composição: Renato Russo


Nosso dia vai chegar,
Teremos nossa vez.
Não é pedir demais:

Quero justiça,
Quero trabalhar em paz.
Não é muito o que lhe peço -
Eu quero um trabalho honesto
Em vez de escravidão.



Deve haver algum lugar
Onde o mais forte
Não consegue escravizar
Quem não tem chance.

De onde vem a indiferença
Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fábrica?



O céu já foi azul, mas agora é cinza
O que era verde aqui já não existe mais.
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto brincar com fogo,
Que venha o fogo então.

Esse ar deixou minha vista cansada,
Nada demais.

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